Parte 2 – Qual seu espaço no novo ecossistema digital?
Confira a segunda parte do artigo da Deloitte Insights, que traça um panorama da criação de ecossistemas pelas empresas de tecnologia, mídia e telecomunicações
Junho - Agosto | 2019A seção a seguir examina como cada um dos conjuntos de tendência desempenha um papel na criação ou destruição do valor da empresa interna e externamente, bem como dentro e fora do ecossistema. Destacamos ainda como as empresas podem aproveitar uma tendência para identificar possíveis fontes de receita, reduzir custos e investimentos de capital e impulsionar valor ao cliente – as três esferas das empresas modernas.
Tendências fundamentais
Classificamos três tendências dentro do conjunto base: “democratização do software”, “miniaturização e poder de computação” e “banda larga, IP e conectividade onipresente”. Como essas tendências prevalecem há muito tempo, daremos apenas uma visão geral de como elas moldaram a indústria e como as empresas responderam a elas no passado.
Os desenvolvedores estão criando algoritmos de código aberto, como interfaces de programação de aplicativos (APIs) para interagir com outros aplicativos para criar produtos melhores, mais rápidos e baratos. Bibliotecas de recursos de código aberto, como APIs, democratizaram o desenvolvimento de softwares. Agora, o software pode ser “montado” por clientes ou agentes de software menores, ao invés de depender de uma grande “empresa de software corporativo” sozinha. Por exemplo, os fornecedores de aplicativos usam APIs de telecomunicações para se beneficiarem dos dados de localização de seus clientes. APIs também promovem um fluxo de informações mais suave entre os pontos de contato do cliente e os sistemas de back-end, aprimorando a experiência geral do cliente. Essas APIs também monitoram padrões de uso, ajudando as empresas a determinar caminhos para investimentos futuros.
A miniaturização permitiu a mobilidade, trazendo o poder de processamento dos PCs para dispositivos móveis. Aproveitando a onda de miniaturização, as empresas de semicondutores desenvolveram novos projetos e arquiteturas para tornarem os processadores menores, mais rápidos e com maior potência. A miniaturização reduziu o tamanho dos dispositivos de computação a preços aceitáveis para adoção no mercado em massa; um usuário pode conectar um desses poderosos dispositivos portáteis a qualquer monitor e usá-lo como um PC.
Interconexões IP e disponibilidade de banda larga provocaram um aumento fenomenal na adoção da internet em todo o mundo. As redes móveis estão agora começando a desempenhar um papel maior e já conectaram 3,8 bilhões de assinantes globalmente, com essa base de assinantes provavelmente aumentando à medida que nos movemos para sucessivas gerações de tecnologias. Essa onda de conectividade onipresente está causando disruptura em outros setores também. Os serviços de saúde móvel, por exemplo, podem fornecer diagnósticos médicos remotos em tempo real, transmitindo imagens de ultrassom e digitalizações diretamente para telefones celulares via SMS, MMS e e-mail.
A trinca de tendências fundamentais, independentemente ou em conjunto, permitiu a revolução digital que estamos vivenciando. Conceitos recentes como blockchain, IoT e inteligência artificial são possíveis devido ao desenvolvimento dessas capacidades fundamentais nos últimos 50 anos.
Tendências de primeira ordem
Identificamos os fatores “proliferação de dispositivos conectados”, “comoditização de hardware e TI”, “tudo como serviço” e “digitalização do mundo” como os fenômenos que ganharam mais destaque como beneficiários diretos das principais tendências recentes. Cada um desses fatores continua a exercer influência dentro e fora do ecossistema digital.
Proliferação de dispositivos conectados
Em um mundo com vários dispositivos, os consumidores exigem uma integração perfeita, e é apenas uma questão de tempo até que essa necessidade transcenda os dispositivos inteligentes para se conectar a outros dispositivos em casa ou no trabalho. Os aplicativos de IoT conduzirão a próxima onda de crescimento em dispositivos conectados, ligando máquinas a outras máquinas e a pessoas para executar ações automáticas utilizando informações capturadas por meio de sensores remotos. A introdução do IPv6 (versão mais recente de o Protocolo de Internet) também está alimentando o crescimento em dispositivos conectados.
Artigos esportivos como FitBit e GOQii são exemplos de inovação em dispositivos conectados. Embora os wearables estejam ganhando rápida adoção, outros segmentos da IoT, como tecnologias automotivas, cidades inteligentes e automação residencial, provavelmente serão negócios maiores no longo prazo. Os carros conectados representam outra área emergente, abrindo caminho para veículos autônomos, à medida que as empresas tentam desenvolver modelos de transporte mais seguros e eficientes. Os avanços na infraestrutura da Internet das Coisas, juntamente com a adoção da tecnologia pelo consumidor, nos levarão para o caminho das cidades inteligentes.
Os padrões de comunicação adequados para automatizar dispositivos finais de baixa potência em casa ainda estão evoluindo; as lutas contínuas sobre os padrões são uma prova da importância de ocupar o papel central de orquestrador. O valor dos dispositivos conectados pode ser capturado por todo o ecossistema de agentes, incluindo provedores de rede de baixa potência, plataformas de software que criam soluções com base em análise e integradores que possibilitam a infraestrutura principal.
O que isso significa para as empresas
Criar novas fontes de receita: Empresas do ecossistema digital devem se concentrar na criação de soluções específicas no curto e médio prazo, como eletrodomésticos inteligentes, medidores inteligentes de energia e serviços de telemática, ao invés de vender recursos básicos no mercado. No longo prazo, eles poderiam formar um ecossistema integrado por meio de parcerias com fornecedores tradicionais, integradores de sistemas e outros participantes importantes.
Racionalizar a estrutura de custos: Dispositivos conectados podem ajudar as empresas a reduzir custos por meio de processos automatizados monitorados remotamente, geralmente sem intervenção humana. Eles também possibilitam um melhor monitoramento da cadeia de suprimentos, otimização da força de vendas e assim por diante.
Aumentar a velocidade da adoção de tecnologia: Para promover uma maior adoção e maximizar a captura de valor, as empresas devem abordar as preocupações de utilidade, preço, segurança e privacidade das empresas e consumidores finais, usando registro de dados em tempo real. Elas poderiam usar novas tecnologias construídas sobre as tecnologias existentes já adotadas pelos clientes.
Comoditização de hardware e TI
A virtualização tem sido um dos maiores fatores que impulsionam a comoditização do hardware: Como os hipervisores – gerentes de máquinas virtuais – tornaram o sistema operacional independente do hardware estrutural, os servidores perderam sua diferenciação. Muitas empresas estão abandonando hardwares de marca em favor de hardwares de baixo custo, adquiridos de diferentes fornecedores.
Os serviços de TI também estão enfrentando a comoditização, impulsionada pelo XaaS, pela nuvem e pela democratização do software. A próxima onda de comoditização está acontecendo dentro das redes. Em redes definidas por software (SDNs), o software controla a alocação de largura de banda e a direção do fluxo de tráfego, e otimiza a infraestrutura de rede geral por hardware de commodity, em vez de switches personalizados. Tais redes tornaram-se uma ameaça para os gigantes de hardware de rede, que, como resultado, começaram a investir em linhas de switch programáveis que suportam o OpenStack e o armazenamento distribuído de dados.
O que isso significa para as empresas
Criar novas fontes de receita: As empresas devem inventar softwares incorporados para seu hardware estrutural; isso pode ajudar no desenvolvimento de soluções personalizadas que atuem como principais diferenciais. As empresas têm ainda a possibilidade de fornecer seu hardware “a preço de custo” e gerar receitas por meio de seu ecossistema de software.
Racionalizar a estrutura de custos: As empresas podem reduzir as complexidades de fabricação e os custos operacionais, produzindo menos modelos de hardware, usando o licenciamento para personalizar e desbloquear certas ofertas de produtos. As empresas devem continuar a aspirar por uma pegada de TI leve para reduzir os custos iniciais de configuração e empregar serviços de pagamento por uso para manter as despesas operacionais baixas.
Aumentar a velocidade da adoção de tecnologia: Os clientes corporativos devem usar a virtualização para separar funções de rede – como a conversão de endereços de rede, firewall, serviço de nomes de domínio e armazenamento em cache – dos dispositivos de hardware proprietários, para que possam ser executadas em software. A separação pode se tornar um facilitador para a adoção de clientes finais e pode ser aproveitada para melhor personalizar e otimizar a infraestrutura.
Tudo como serviço
O mundo está correndo em direção ao “tudo como serviço” (XaaS), que engloba não apenas software e hardware, mas também áreas como gerenciamento de dados, gerenciamento de processos de negócios e conteúdo.
A proliferação do XaaS é aumentada por tendências estruturais fundamentais que permitem que as empresas se conectem e trabalhem com ocupação variada, tornem-se independentes de localização e de dispositivos e aproveitem a rápida escalabilidade. O modelo pay-per-use e on-demand do XaaS pode não apenas reduzir os requisitos de capital – também ajuda na implementação rápida, previsibilidade de custos, agilidade e ROI equilibrado. Todas essas combinações fazem do XaaS um potencial disruptor para a atual dinâmica de negócios e abre caminhos para a criação de valor.
O XaaS encontra aplicações em setores tão diversos quanto saúde, seguros, educação e assistência e gestão em casos de desastres. A empresa do setor de educação Pearson, por exemplo, começou a construir uma infraestrutura híbrida global para desenvolver produtos educacionais baseados na web para alcançar os mercados globais. A HealthHiway, uma rede on-line de informações sobre saúde com base na Índia, conectou mais de 1.100 hospitais e 10.000 médicos, facilitando a melhoria dos serviços médicos a um baixo custo.
O XaaS está emergindo como estrutura abrangente para gerenciamento de processos de negócios de ponta-a-ponta – ou seja, gestão de processos de negócios desde sua concepção e projeto até a implementação e adoção. Muitas empresas de software e hardware focadas em um único produto estão mudando para serviços em nuvem para se manterem relevantes. Na verdade, as organizações da Fortune Global 500, como Amazon, Cisco e alguns dos grandes provedores de sistemas operacionais, estão começando a oferecer pacotes de software, plataformas e infraestrutura, em vez de serviços únicos. Com a substituição da venda de produtos por serviços, o futuro provavelmente forçará as empresas do setor a redefinir seus modelos de negócios. Isso inclui revisitar a estratégia de produto e de preços, além da estrutura de manutenção e suporte e dos indicadores de desempenho.
O que isso significa para as empresas
Criar novas fontes de receita: Grandes empresas de software corporativo podem migrar para o XaaS para gerar novas receitas e acelerar esse processo, o que abre uma nova oportunidade para novas ofertas de serviços de pagamento por usuário para o crescente mercado de pequenas e médias empresas.
Racionalizar a estrutura de custos: As empresas podem adotar modelos de ativos leves em favor da redução de custos operacionais em suas interações com fornecedores e clientes.
Aumentar a velocidade da adoção de tecnologia: Muitas empresas agora preferem modelos com base em assinatura para facilitar o consumo da tecnologia em dispositivos leves. Essa opção costuma fornecer a agilidade tão necessária que as empresas buscam. No entanto, a falta de propriedade de ativos pode resultar na redução da confiança do cliente, devido a preocupações com segurança e privacidade. Assim, as empresas do ecossistema digital devem construir uma marca confiável em determinados setores, como finanças e saúde, para ajudar a impulsionar a adoção de novas ferramentas.
Digitalização do mundo
A digitalização é uma megatendência em potencial que, alavancada pelas tendências de nível fundamental, engloba todas as outras tendências-chave e desempenha um papel importante em sua manifestação. Em um mundo moldado por dispositivos conectados e cobertura de banda larga onipresente, a onda de digitalização muda radicalmente a forma como as empresas conduzem suas operações e como elas interagem com clientes, fornecedores e stakeholders. Além dos óbvios ganhos de eficiência, isso reduz as barreiras de entrada em vários setores, já que os ativos digitais passam a substituir os tradicionais ativos físicos.
A digitalização leva as empresas do setor de TMT a buscarem inovação e causarem disruptura em seus próprios modelos de negócio antes que os concorrentes o façam. Diversos exemplos ilustram a lição de “adaptar ou morrer”: a Canon, por exemplo, começou recentemente a adaptar sua linha de produtos para combater o desafio dos smartphones, incluindo a construção de câmeras que se conectam à Internet e a aplicativos sociais. Muitos setores perderam a batalha da digitalização ou se esforçam com dificuldade desde então, oferecendo exemplos cautelosos.
A digitalização provavelmente não será apenas um diferencial, mas, ao contrário, poderá se tornar um meio de permanecer relevante e, à medida que mais e mais setores forem incorporados nessa onda de digitalização, a agilidade dos negócios se tornará uma ferramenta de sobrevivência necessária.
O que isso significa para as empresas
Criar novas fontes de receita: Assim como a digitalização de mídia substituiu os principais bens físicos, a próxima onda para empresas de TMT é digitalizar e automatizar os processos de negócios. Isso permitirá que as empresas se envolvam com os clientes por vários meios, além de obterem uma quantidade de dados sem precedentes sobre suas preferências, o que pode levar a percepções sobre clientes que podem ser monetizadas.
Racionalizar a estrutura de custos: Em um esforço para reduzir custos e um tempo de resposta competitivo, as empresas podem usar a digitalização tanto internamente (processos) quanto em seu portfólio de produtos e serviços.
Aumentar a velocidade da adoção de tecnologia: Os consumidores estão se adaptando rapidamente ao ambiente digital, abraçando sua conveniência e utilidade. As empresas devem agora se esforçar para envolver os clientes, fornecedores, parceiros e funcionários digitalmente, usando uma abordagem ecossistêmica para aumentar ainda mais a adoção. Essa abordagem exigirá foco, gestão de mudanças e reimaginar as possibilidades de negócios.
Leia a terceira e última parte do artigo “Qual seu espaço no novo ecossistema digital?”