Qual seu espaço no novo ecossistema digital?
Uma análise das tendências que moldam a indústria de tecnologia, mídia e telecomunicações
Junho - Agosto | 2019A Mundo Corporativo tem o prazer de anunciar sua parceria com a Deloitte Insights, portal global de conteúdos da Deloitte, que apresenta estudos, artigos, vídeos e podcasts sobre as principais tendências que impactam os negócios no mundo. A partir desta edição, publicaremos conteúdos selecionados da Deloitte Insights, em sinergia com a realidade do mercado brasileiro.
Introdução
Tanta coisa está mudando, e tão rápido, em tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT) que pode ser difícil acompanhar essas transformações. De praticamente qualquer ponto de vista, é cada vez mais difícil entender seu lugar em uma rede que está crescendo rapidamente – tanto em tamanho quanto em complexidade – e identificar claramente as fontes de criação de valor de hoje, que dirá as de amanhã.
E não é difícil encontrar exemplos de empresas de TMT – e mesmo de setores inteiros – prejudicadas pela falta de compreensão e adaptação a um cenário de mercado em constante mudança. As empresas de smartphones causaram disruptura em fabricantes de telefones celulares, que ainda estão lutando para recuperar o atraso. Muitos provedores de softwares corporativos já estabelecidos – atrasados na adaptação a modelos com base em nuvem – perderam participação significativa de mercado para empresas de software como serviço.
Este artigo tem como objetivo desmistificar as tendências que moldam o que chamamos de ecossistema digital, para mostrar a direção dos movimentos e como eles se cruzam. Ao apresentar uma nova estrutura – com base na análise de empresas do ecossistema ao longo dos últimos 30 anos e entrevistas com estrategistas de TMT –, nosso objetivo é ajudar a antecipar e alavancar as tendências com o objetivo de competir com sucesso e permanecer relevante.
O que é o ecossistema digital? É um subconjunto de empresas de TMT que se especializaram no desenvolvimento de hardwares, conteúdos e aplicativos de software e fornecem uma plataforma para criação, distribuição e consumo de conteúdos, aplicativos e serviços. A prática de TMT da Deloitte vê essas empresas como abrangendo um ecossistema em virtude de suas inter-relações complexas e de seu impacto coletivo em uma ampla gama de clientes. Por exemplo, os agregadores de táxi transformaram rapidamente o setor de transporte privado por meio do uso de aplicativos móveis. E os provedores de conteúdo inovadores conseguiram agregar, selecionar e fornecer conteúdo para os clientes finais, aproveitando a infraestrutura de nuvem sobre redes fixas e de banda larga sem fio – o que, por sua vez, afetou a forma como as empresas de rede capturam e retêm valor.
As tendências digitais estão reformulando os negócios de TMT de várias maneiras, inquietando seus ambientes e forçando a reavaliação constante de estratégias e previsões. Compreender o ecossistema digital e as tendências nele contidas é fundamental para os executivos que enfrentam dificuldades, por exemplo, para saber se e como usar a tecnologia para diferenciar sua empresa.
Visualize o infográfico aqui.
As empresas do ecossistema, além de impulsionarem a inovação dentro do setor de TMT, estão transformando os setores e tornando-se um terreno fértil para a concorrência de forma geral. Por exemplo, a Amazon, uma empresa digital, causou disruptura no varejo, e alguns grandes varejistas responderam abrindo laboratórios de inovação com equipes de engenheiros. Google e Apple estão lançando fortes bases tecnológicas sobre as quais outros setores, incluindo serviços automotivos e financeiros, estão construindo.
Criação de valor no ecossistema digital
O ecossistema digital está gerando valor ao longo de três trilhas: criar novas fontes de receita, racionalizar a estrutura de custos e aumentar a velocidade de adoção de tecnologias.
• Criar novas fontes de receita: Nos últimos anos, a transformação digital introduziu uma série de novos fluxos de receita e, ao forçar uma mudança nos modelos de negócios, já começou a causar disruptura em setores e empresas. Serviços financeiros e varejo estão digitalizando suas ofertas de mercado, como pagamentos digitais e plataformas de e-commerce; e os setores de saúde, automotivo, energia, educação e governo estão no caminho para conduzir esforços similares de digitalização, alavancando novas tecnologias para aumentar as receitas.
• Racionalizar a estrutura de custos: Para empresas estabelecidas, o aumento da digitalização reduziu os custos por meio da melhora de processos comerciais internos, como vendas, operações e gerenciamento da cadeia de suprimentos. Para startups, a inovação aberta e os serviços pay-per-use reduziram as barreiras de entrada. E para muitos participantes dentro e fora do ecossistema, essas tendências diminuíram tanto os investimentos para substituir ativos quanto a escala de investimentos de capital necessários para o sucesso. A adoção de tecnologias digitais também permite a automação inteligente, que pode melhorar a eficácia e a eficiência e ajudar a reduzir os custos.
• Aumentar a velocidade da adoção de tecnologia: Por meio de pacotes inteligentes e produtos e serviços inovadores, as empresas estão criando novos caminhos para trazer inovações tecnológicas com mais rapidez. A taxa de adoção aumenta à medida que as capacidades digitais se fortalecem, criando um círculo virtuoso de valor, ao mesmo tempo em que reduzem o risco de adoção das novas ferramentas. Isso acontece devido a um aprendizado incremental e rápido, além de acesso mais veloz às informações. As empresas também estão criando vários pontos de contato para envolver os clientes, aumentando a utilidade de seus produtos e serviços e dando aos clientes mais motivos para usá-los.
A estrutura de três rodas da criação de valor:
Gráfico: Deloitte University Press | DUPress.com
Quais tendências estão moldando cada setor do ecossistema?
Para ver quais forças as empresas de TMT aproveitarão para criar valor nos próximos anos, é importante entender a ascensão e queda dos setores dentro do ecossistema digital e como diferentes tendências afetaram cada setor. Conforme o ecossistema migra para além de seus principais setores e indústrias, esses fatores terão impacto significativo sobre as empresas de TMT.
Nos últimos 30 anos, as receitas do setor de hardware aumentaram apenas 5% segundo a taxa de crescimento anual composta (CAGR), quase não alcançando o crescimento geral do ecossistema. O desempenho lento deste setor pode ser atribuído à sua comoditização, alimentada por tecnologias de virtualização e uma queda no custo de hardware, resultando em uma mudança de valor para a camada de software.
Com o passar dos anos, os custos de armazenamento e computação caíram, enquanto o poder de computação aumentou drasticamente, o que significa que as empresas precisam de menos (e menores) equipamentos. Nos anos 80 e 90, PCs, equipamentos de rede e semicondutores eram fundamentais; a última década presenciou um crescimento exponencial em dispositivos móveis, com o aumento da acessibilidade e utilidade para os clientes finais. Combinada com a cobertura de rede onipresente, o protocolo de Internet e as altas velocidades de banda larga fornecidas pelos avanços na tecnologia de rede fixa e sem fio, a miniaturização abriu caminho para o mundo conectado que vemos hoje. A Internet das Coisas (IoT) e as cidades inteligentes provavelmente serão as próximas principais fontes de valor do mundo digitalizado e conectado.
O setor de software registrou um crescimento explosivo nas últimas três décadas, impulsionado principalmente por softwares de infraestrutura no final dos anos 80 e início dos anos 90, software de sistema nos anos 90 e, na última década, software de aplicativos. Os modelos de negócios “tudo-como-serviço” (XaaS) com base em nuvem, que incluem softwares, plataforma e infraestrutura, começaram a gerar valor, com cada segmento mostrando alto potencial de crescimento. O desempenho de softwares de aplicação é impulsionado pela democratização do software, que – usando seu conjunto de plataformas de desenvolvimento e tecnologias de código aberto – levou a menores exigências de despesas de capital e a um tempo menor de abordagem do mercado.
Em nossa pesquisa, calculamos que, nos últimos 13 anos, a receita do setor de portais e plataformas de Internet do setor de software cresceu a uma CAGR de 23%, contribuindo com cerca de 40% das receitas totais desse mercado. Google, Amazon e Facebook são exemplos de como o escopo do ecossistema digital está se expandindo para além dos principais setores tecnológicos para incluir compras, marketing e digitalização.
Os softwares ajudam empresas a gerarem receitas incrementais, aproveitando os avanços em dados e analytics para obterem informações e percepções críticas de negócios. As empresas estão começando a construir um melhor entendimento das preferências do cliente, ajudando-as a adaptar seus produtos e serviços e desenvolvendo novas formas de engajar clientes em várias plataformas. Quanto mais as coisas ficarem conectadas e pessoais, e mais dados corporativos forem digitalizados, maior será a segurança crítica em todos os níveis: aplicativos, redes e dispositivos.
À medida que as principais tendências discutidas acima amadurecerem e se interligarem, novas oportunidades e valores serão criados. É importante que os executivos de TMT se aprofundem mais e compreendam melhor as tendências que têm impulsionado a evolução do ecossistema recentemente, de modo a serem capazes de fazer apostas sensatas sobre o futuro.
Com base em nossa pesquisa sobre como essas tendências se originaram, categorizamos as tendências em três grupos: fundamental (tendências básicas que levaram à emergência de outros), de primeira ordem (emergindo de tendências fundamentais) e de segunda ordem (aquelas que surgiram das tendências de primeira ordem). A categorização é útil para avaliar o impacto de cada uma delas em diferentes negócios; também pode ajudar a entender como uma ou mais tendências possibilitaram o surgimento de outra onda de criação de valor no ecossistema digital. Embora as tendências em qualquer conjunto surjam principalmente da camada abaixo, um crescimento posterior só é possibilitado pela influência bidirecional. Por exemplo, a proliferação de dispositivos conectados só foi possível após a conectividade de rede se tornar onipresente. No entanto, depois de atingir uma certa escala, a proliferação forçou os provedores de rede a investir no fornecimento de maior largura de banda e melhor velocidade.
Leia a segunda parte do artigo “Qual seu espaço no novo ecossistema digital?”