Um momento decisivo para a América do Sul e todo o planeta
As mudanças climáticas poderão levar a perdas econômicas de trilhões de dólares na nossa região, mas elas são evitáveis. O Brasil tem um papel de liderança a desempenhar na transição global para uma economia de baixo carbono.
As decisões sobre políticas públicas e investimentos privados tomadas nos próximos anos moldarão em grande parte a economia e o clima do Brasil. Os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos e, sem uma ação coordenada entre governos, empresas e ONGs para desenvolver e implementar as soluções inovadoras que o momento exige, as consequências serão irremediáveis – para as pessoas, para a sociedade e para os negócios.
Um estudo lançado recentemente pela Deloitte no Fórum Econômico Mundial 2022, “The turning point: um novo clima econômico na América do Sul”, revela que, se não forem controladas, as mudanças climáticas poderão levar a perdas econômicas de US$ 17 trilhões entre 2021 e 2070 para a América do Sul.
Na prática, essa forte regressão da economia pode se traduzir em 18 milhões de empregos a menos nas economias da região em 2070, último ano da série estudada. Para se ter uma ideia, neste mesmo ano de 2070, a América do Sul pode sofrer a perda de 12% de seu PIB – o equivalente a US$ 2 trilhões. Para efeitos de comparação, esse recuo é maior do que a economia atual do Brasil.
Esse cenário trará ainda uma forte pressão em diversos setores, como os de agricultura, saúde, turismo, manufatura, infraestrutura e finanças – segmentos que estão particularmente ligados às condições térmicas e de saúde humana.
Sem uma verdadeira mudança de rota, e de mentalidade, caminhamos para uma economia global prejudicada pelo clima. Os impactos das mudanças climáticas, porém, ainda são evitáveis. O progresso contínuo e a inovação na descarbonização são fundamentais para que a América do Sul seja capaz de superar os desafios climáticos que enfrenta atualmente.
Uma década determinante
A rápida descarbonização apresenta benefícios importantes – a partir de meados da década de 2060, a América do Sul poderá atingir seu ponto de virada, quando os ganhos econômicos da descarbonização começam a superar os custos.
Para alcançar esse objetivo ambicioso, é preciso preparar o terreno para uma rápida descarbonização ainda nesta década, até 2030. Isso requer a aceleração de inovações, investimentos e iniciativas em Pesquisa & Desenvolvimento para viabilizar a implementação de tecnologias e ferramentas necessárias para que os impactos positivos se prolonguem além dos próximos anos.
O aspecto regulatório também tem um papel fundamental. As metas de neutralidade de carbono para 2050 precisariam ser legisladas em todos os países da América do Sul; o que pressionaria o Brasil a antecipar em uma década sua meta ‘net zero’ atual, estabelecida até 2060.
O desafio brasileiro
O Brasil tem um papel de liderança a desempenhar nesse contexto – a partir de seus importantes diferenciais – na transição global para uma economia de baixo carbono, considerando sua riqueza de recursos naturais, a força de seu empresariado e o engajamento crescente da sociedade com o tema. Se começar a agir agora, o País ainda poderá ter um futuro de emissões líquidas zero, o que transformará indústrias, criará empregos e fortalecerá a economia.
No Brasil, o setor de Agricultura, Florestas e Uso do Solo, conhecido pela sigla em inglês AFOLU, é o principal emissor de gases de efeito estufa. Por outro lado, é também aquele com o maior potencial para reduzir suas emissões brutas e realizar o sequestro de carbono, para chegar em 2060 com emissões líquidas negativas.
Investimentos significativos em transmissão e armazenamento de eletricidade podem permitir que o Brasil aproveite recursos mais baratos e renováveis, como o uso de energia solar na região Nordeste. Incentivos fiscais, subsídios e garantias regulatórias ajudariam a impulsionar investimentos privados em tecnologias de transição e fomentar o desenvolvimento das principais indústrias, como a produção de baterias elétricas e hidrogênio verde.
Outro desafio importante para o País diz respeito ao cuidado com a população. O Brasil possui uma população extremamente diversificada, e com níveis extremos de desigualdade social e pobreza. Conforme aumentam a frequência e a intensidade dos eventos climáticos, eles terão efeitos ainda maiores sobre os mais pobres. Além disso, a perda de produtividade da terra no curto prazo (até 2030), como resultado das mudanças climáticas, ameaçará a segurança alimentar das populações de baixa renda, principalmente na Região Nordeste do País.
Qualquer futuro sustentável vislumbrado deve considerar a participação significativa de toda a população, abordando os efeitos sociais e econômicos da transição.
O momento é de ação. As iniciativas conduzidas agora terão efeitos benéficos e decisivos para todo o mundo. Agentes dos setores públicos e privados precisam desenvolver e implementar soluções coordenadas para que possamos alcançar esse ponto de virada climática.