Momento de decisões
Pesquisa da Deloitte traz tendências e expectativas do mercado para 2018 – um ano que combina a possibilidade de prosseguimento das reformas estruturantes com eleições gerais; aposta é de recuperação econômica e retomada dos investimentos
Outubro-Dezembro | 2017Os ciclos econômicos parecem cada vez mais curtos. Fatores interdependentes influenciam de forma contundente o ambiente de negócios, fazendo com que as organizações devam constantemente preparar-se para transformações em suas estratégias e em seus processos de gestão.
Para mapear as tendências que devem emergir em 2018, a Deloitte foi ao mercado entrevistar 750 empresas para a pesquisa “Agenda 2018”. As organizações consultadas somam R$ 1,779 trilhão em receitas – valor correspondente a 26% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro estimado para 2017 – e representam 36 setores da economia.
Um otimismo, ainda que cauteloso, surge nas respostas dos executivos participantes. A própria expectativa de crescimento da receita é um indicador dessa visão. Se, para o fechamento de 2017, as organizações entrevistadas esperavam, na média de suas respostas, um crescimento de 14,8% nas vendas em relação a 2016, para 2018 a perspectiva é de que a receita líquida cresça 19% sobre o resultado do ano anterior. No geral, as organizações esperam, em média, uma margem de lucro de 13,2% para o fechamento dos resultados de 2017.
Entre os setores que mais vislumbram ótimos resultados para 2018, estão os de atividades financeiras, serviços prestados a empresas, construção, máquinas e equipamentos e agronegócio. Em comum, é possível identificar nesses segmentos a robustez em sua participação no mercado brasileiro e a capacidade de impactar inúmeras outras indústrias com o seu desenvolvimento, gerando um ciclo virtuoso em direção à retomada.
O retorno dos investimentos
Tendo em vista que o Brasil é um mercado atraente sobretudo para quem quer investir no longo prazo, os investimentos devem retomar a sua rota de crescimento em 2018, considerando não só os próximos 12 meses, mas também a perspectiva para os próximos anos. Os resultados da economia retratados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em relação ao terceiro trimestre de 2017, divulgados no início de dezembro, já sinalizavam esse movimento de retomada dos investimentos.
Em 2018, as empresas entrevistadas pela pesquisa preveem ampliar o seu nível de investimento em 15% – o que corresponde a quatro pontos percentuais a mais sobre o que elas esperam aumentar nos aportes até o fechamento de 2017.
Depois de um período desafiador, no qual muitas organizações colocaram o foco na produtividade e no enxugamento de sua estrutura para lidar com a redução dos investimentos, colocar essa retomada de aportes em foco é animador. Especialmente quando se verificam as motivações desses investimentos e onde eles tendem a ser mais utilizados: lançar novos produtos e serviços (56%) e substituir máquinas e equipamentos (40%). Trata-se, portanto, de uma aposta no crescimento do consumo e das vendas em geral, com foco na adequação do portfólio às novas demandas do mercado.
O destaque regional em relação a resultados fica para o Nordeste do Brasil. As empresas da região estimam ter em 2018 um crescimento da receita líquida de 23% em relação ao ano anterior – quase dez pontos percentuais acima dos 13,4% esperados por essas organizações para o fechamento de 2017, em relação a 2016, e bem acima da média das demais regiões do Brasil.
De acordo com a “Agenda 2018”, três em cada quatro empresas consideram fazer investimentos por identificar oportunidades relacionadas ao seu negócio – um indicador de que, acima de tudo, acreditam nas boas perspectivas para a sua própria empresa. Partindo para um âmbito macro, 63% dos participantes apontaram como motivo para a realização de investimentos em 2018 a expectativa da retomada da atividade econômica no Brasil. Ou seja: há otimismo tanto da porta da empresa para dentro quanto para fora.
Em relação à geração de empregos, vale destacar a perspectiva de ampliação de postos de trabalho (indicada por 41% dos respondentes) e dos treinamentos para os funcionários (sugerida por 45% das organizações). Quatro em cada cinco empresas entrevistadas afirmaram que pretendem manter os atuais benefícios aos seus colaboradores. Com esse resultado, a capacitação e a motivação do capital humano reiteram a sua importância para que as organizações possam avançar em sua trajetória de desenvolvimento.
Preocupação com reformas
Abrangente, o estudo reforçou algumas demandas já consagradas do empresariado. O impacto positivo da infraestrutura para destravar o fluxo de investimentos e garantir um melhor ambiente de negócios (lembrada por 93% dos entrevistados) é um exemplo. Outro é a visão de que é preciso que o governo avance em reformas modernizantes, especialmente nas áreas tributária (mencionada por 84% dos respondentes) e previdenciária (avaliada como positivamente influente para o seu negócio por 70% dos participantes). Essa visão pragmática do empresariado coloca a retomada de investimentos e as reformas como mais relevantes para os negócios do que a eleição presidencial no Brasil (43%).
No cenário internacional, os eventos que prometem afetar de maneira negativa os negócios, segundo os respondentes, são o aumento da taxa de juros dos Estados Unidos (43%) e a desaceleração da economia chinesa (33%). Essa preocupação com o ambiente externo é justificada pelo fato de que 30% das empresas participantes têm dívida em moeda estrangeira.
Capitalização
E de onde virão os recursos para financiar os investimentos previstos? A tendência é de que a fonte de capital mais utilizada continue a ser os bancos de varejo, seguida pelos aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Aportes dos proprietários, do grupo controlador e de fundos de investimento completam a lista.
A trajetória ascendente do mercado de capitais promete continuar. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, registrou apenas duas ofertas iniciais de ações (Initial Public Offerings, ou IPOs) em 2016, enquanto, em 2017, foram seis as aberturas de capital (uma a menos do que indicou a edição anterior da pesquisa “Agenda 2017”). No universo das 750 empresas pesquisadas, dez demostraram o interesse em realizar uma IPO em 2018. Isso significa que o mercado está mais atento às oportunidades da Bolsa e, mais do que isso: está se estruturando em termos de governança e comunicação com investidores, tendo a abertura de capital em vista. O resultado é um mercado mais maduro e fortalecido como um todo.
As motivações para as empresas que pretendem se capitalizar reiteram que 2018 deve ser melhor que os últimos anos no Brasil. Entre os respondentes que pretendem se capitalizar em 2017, eles o farão por acreditarem em melhores resultados para a sua empresa (60%) e na retomada da atividade econômica brasileira (51%).
A revolução tecnológica se intensifica
Acompanhar o desenvolvimento da tecnologia é imperativo para quem lida com as disrupturas que atingem setores e mercados inteiros. Embora uma parte importante das empresas levantadas pela pesquisa desconheça tecnologias emergentes como blockchain (35%), smart cities (35%), indústria 4.0 (31%) e realidade virtual e aumentada (23,3%), esses recursos já são um fato e estão promovendo mudanças consideráveis nos negócios.
O lado positivo dessa história é o de que muitas organizações responderam ter o interesse, no médio prazo, de investir nesses vetores da transformação digital em curso. No topo da lista das tecnologias que devem receber recursos nos próximos dois anos, estão Internet das Coisas (indicada por 19% dos respondentes), indústria 4.0 (17%), cyber security (16%) e analytics (16%).
Melhores resultados, aumento nos investimentos e mais recursos empregados em tecnologia. Que venham 2018 e suas inúmeras oportunidades.