Como a tecnologia está reinventando a experiência da auditoria

Até cerca de 20 anos atrás, as estatísticas usadas no mundo dos esportes eram nada mais do que medidas quantitativas com base em performances passadas. Desde que os clubes perceberam que os dados poderiam ser usados para prever o futuro, a escalação das equipes e a própria forma de jogar mudaram completamente^(1).

A mesma coisa acontece agora no mundo dos negócios e, em particular, no exercício da profissão de auditoria. Além da função convencional que os auditores sempre assumiram, esses “trituradores de números”, como muitas vezes são conhecidos, são solicitados a fornecer um verdadeiro raio X da saúde financeira das empresas e apoiar seus executivos a planejarem ações futuras.

O aumento das expectativas projetadas nos auditores traz desafios sem precedentes para a profissão, fazendo com que muitos se perguntem como construir uma ponte para aproximar a análise tradicional dos insights transformadores.

Na verdade, essa ponte já vem sendo construída: os auditores estão aproveitando o poder e o potencial da tecnologia para moldar o futuro da profissão e aprimorar a qualidade do serviço prestado. As tecnologias inovadoras tornam possível mudar o escopo da auditoria, melhorar processos e mitigar erros. E, graças à computação em nuvem, esses recursos estão cada vez mais disponíveis globalmente.

O futuro da auditoria fica mais claro à medida que organizações como a Deloitte aprendem como maximizar as novas ferramentas que têm ao seu alcance.

Alguns exemplos:

• Ferramentas cognitivas e analíticas podem revisar e analisar grandes quantidades de dados rapidamente. Ao usar essas tecnologias para ler contratos e faturas, os auditores conseguem processar, destacar e extrair, com eficiência, informações importantes de um conjunto completo de dados. Essas ferramentas também permitem que dados internos sejam complementados por dados externos. Isso ajuda a entender melhor o negócio de um cliente e obter uma visibilidade mais clara dos riscos. Os sistemas podem até ser “ensinados” a sugerir procedimentos de auditoria para lidar com os diferentes riscos detectados.
• Ferramentas de processamento de linguagem natural auxiliam as equipes de compliance a identificar as informações mais interessantes e importantes escondidas em dados estruturados, para obter informações contextualizadas, explicações e possíveis próximas ações.
• A aplicação da robótica ajuda os auditores a automatizar planilhas, gerando solicitações de confirmação para melhorar a eficiência operacional e aumentar drasticamente a velocidade, a eficiência e a consistência dos processos.
• A assistência digital permite pesquisas mais inteligentes. Pode, por exemplo, apontar a localização exata de uma informação em um documento, ou determinar padrões para responder a uma consulta. Os chatbots também podem usar o processamento de linguagem natural para prever as intenções de um usuário e levá-lo à resposta certa de forma mais rápida e precisa.
• O blockchain tem o potencial de automatizar os processos de contabilidade em conformidade com a regulamentação vigente; permitir que os auditores obtenham dados das transações diretamente do blockchain para analisá-los; e servir como uma plataforma para habilitar diversos novos aplicativos, abrindo caminho para novos serviços.
• Sensores e outras tecnologias conectadas, conhecidas como Internet das Coisas (IoT), coletam dados que podem ser usados para ajudar os auditores a calcular a depreciação de ativos físicos e avaliar outras questões relevantes.

Tomados em conjunto, avanços tecnológicos como esses não apenas trazem a promessa de aprimorar a experiência e a qualidade, mas também questionam o próprio conceito de auditoria. O nível de exigência para os auditores cresce constantemente, conforme reguladores, investidores e outros stakeholders aumentam suas expectativas de qualidade e consistência dos serviços. A qualidade, por sua vez, é fundamental para a confiança que os auditores transmitem aos clientes e ao mercado em geral; é também a chave dos compromissos assumidos com os clientes.

A união dessas tecnologias de ponta com a análise humana traz muitos benefícios potenciais que estão aprimorando e remodelando a auditoria, tornando-a mais inteligente, mais consistente e mais valiosa. Ao impulsionar a eficiência, agilizar o fluxo de trabalho e automatizar os processos de rotina, a tecnologia libera espaço e tempo para que os auditores possam fazer perguntas mais profundas e exigentes, que elevam a qualidade do trabalho – revelando ideias e recomendações que atendam às expectativas crescentes dos clientes, dos investidores e do mercado.

(1) Em 2002, Billy Beane, gerente do time de basquete americano Oakland Athletics, aplicou pela primeira vez conceitos de análise preditiva ao esporte. Com isso, virou o jogo para a equipe, que com baixo orçamento conseguiu 22 vitórias contra grandes times no campeonato daquele ano. A história inspirou o filme Moneyball, de 2011.