Executivos de grandes empresas e agentes de mercado em geral compartilham suas perspectivas sobre o ambiente econômico e de negócios para o Brasil em 2018; expectativa é de crescimento no médio prazo e ampliação de investimentos.
Os últimos anos no Brasil ofereceram um verdadeiro teste de resistência para as empresas que atuaram no País. Contudo, depois de tanto tempo de tensão e incerteza, enfim, o cenário econômico começa a ficar mais claro. Queda de taxa de juros, inflação contida e uma leve recuperação da atividade geram algum otimismo para 2018. Por sua vez, o desemprego ainda elevado, o cenário eleitoral ainda imprevisível e os desdobramentos das investigações de corrupção sugerem cautela. Como enxergar no meio de tanta neblina?
Com o objetivo de ampliar o debate e apurar as expectativas do mercado em relação ao próximo ano, a Mundo Corporativo convidou alguns dos mais importantes executivos do Brasil para compartilharem suas perspectivas sobre a economia como um todo e também a respeito do seu próprio setor de atuação. Os entrevistados são unânimes em dois pontos: 2018 é um ano para preparar o crescimento mais forte para o futuro, e as dúvidas sobre o País não podem travar todos os investimentos que possam gerar mais riqueza.
Líderes de associações e executivos de grandes empresas nacionais e multinacionais com atuação no Brasil acreditam que o próximo ano dependerá fundamentalmente do setor privado para que 2019 comece com o pé no acelerador. Transformar o potencial da economia brasileira em realidade vai exigir capacidade de planejamento dos empresários e sensibilidade para detectar tendências e sinergias em um país ainda difícil de ler.
Mais transparência
“Em maior ou menor grau, mudanças regulatórias como a Lei das Estatais, a regulamentação da Lei Anticorrupção e a revisão dos segmentos especiais de governança da Bolsa de Valores atendem a uma aspiração da sociedade por modos mais hígidos e benignos de fazer negócios. Dado que na era da transformação digital, em virtude das crescentes aspirações sociais, a transparência é inevitável, as empresas precisam sair do modo reativo para usarem inteligentemente essa onda de sorte e se diferenciarem positivamente, reforçando o vínculo de confiança e a fidelização com usuários e consumidores e todas as partes interessadas relevantes.”Emilio Carazzai, presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
Recursos e oportunidades
“2018 vai ser um ano obrigatoriamente melhor do que os últimos três. Estamos em um país grande, com consumo enorme e muitos recursos. Para o mundo do private equity, existem muitas oportunidades em consumo, serviços, educação e saúde. Lá fora já enxergam boas oportunidades para cá.”Clovis Meurer, conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP)
Empregabilidade em foco
“O âmbito geral é de melhora. Quando olhamos os componentes do PIB, o saldo potencial já está em alta e o consumo das famílias pode melhorar. O poder de compra tende a melhorar antes dos empregos. Temos 13 milhões de desempregados? Sim. Mas temos 87 milhões de empregados que têm apetite para consumo. A sustentação da empregabilidade passa pelo desenvolvimento de pessoas. Educação entra junto com saúde como algo que não pode ser riscado.”José Claudio Securato, conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) e presidente da Saint Paul Escola de Negócios
Crescimento do emprego
“Estamos em um momento de melhoria iminente em todas as questões. O cenário externo pesa bastante; temos muita liquidez no mundo. Nos juros, já vemos a queda, consequentemente melhorando financiamentos e vendas. Esperamos mais gente com confiança para investir em construção. O crescimento na parte de emprego começa devagar e depois deslancha um pouco mais. Um ano nesse horizonte é muito curto, mas vai começar.”Ricardo Garcia, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) e gerente de Relações com Investidores da Helbor Empreendimentos
Otimismo sustentável
“Apesar de o País não ter realizado todas as reformas que se planejava, é inegável que avanços existiram, como o estabelecimento do teto dos gastos públicos, a aprovação da reforma trabalhista e o equilíbrio cambial e das taxas de juros, além da perspectiva de uma reforma da previdência. Tudo isso nos confere um certo otimismo sustentável para os próximos anos. Excetuando-se um acidente eleitoral impactante em 2018, que venha a propor a reversão das conquistas obtidas, vejo a longo prazo excelentes perspectivas para a nossa economia.”Francisco Sant’Anna, diretor nacional do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e sócio da área de Auditoria da Deloitte
Recuperação no consumo
“É possível ser um pouco mais otimista. Acho que existe espaço para crescer sem depender de reformas do governo. É possível perceber que parte da ociosidade da economia já está diminuindo e que as mudanças na legislação trabalhista podem diminuir os custos das empresas já no ano que vem. Então, dá para esperar algum avanço. As indústrias petroquímica e de flexíveis são um termômetro para a economia como um todo. Já existe alguma recuperação no consumo que tende a se estender para o ano que vem. Conseguimos antecipar que 2018 vai ser um ano melhor que os últimos anos, mas ainda distante do que tínhamos cinco, seis anos atrás.”Otávio Carvalho, consultor da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF)
Cenário de maior confiança
“Estamos confiantes com relação ao cenário econômico brasileiro de 2018. Acreditamos que terá um crescimento na economia de 2% a 3% devido ao aumento da confiança do consumidor, ao custo de crédito mais barato e a outros incentivos, como saque do FGTS inativo. O mercado de delivery online continua em crescimento a cada ano que passa, e a expectativa para 2018 é que o mercado continue positivo.”Alex Anton, diretor de Estratégia e Business Development da iFood
Sinais de recuperação
“Se considerarmos os principais indicadores econômicos, como inflação, índice de desemprego e taxa Selic, vemos alguns sinais de recuperação para a economia brasileira. Acreditamos que o mercado aumentará ligeiramente neste ano e no próximo, mas ainda é difícil prever quando teremos novamente o mesmo desempenho que tivemos em 2013, por exemplo. Permanecemos otimistas quanto à prosperidade futura deste grande país. O Brasil possui uma das maiores economias do mundo, uma abundância de recursos naturais, um importante mercado interno de consumo e uma sólida indústria automobilística. Para 2018, nossos estudos estão nos levando a prever um mercado de 2,4 milhões de unidades vendidas, o que proporcionaria um crescimento de 9% em comparação a 2017.”Anderson Suzuki, gerente-geral de Comunicação da Toyota
Descolamento da política e da economia
“Hoje as expectativas são mais positivas. É possível começar a pensar em médio prazo, embora ainda haja muitas incertezas políticas. Acho que já houve um descolamento da política e da economia; vamos ainda ver se isso se concretiza no ano que vem. Esperamos que, em 2018 e dali adiante, os investimentos mais modernos se tornem palatáveis, e que, daqui para a frente, possamos diversificar mais e melhor.”Cláudio Ferro, CEO da PoupaBrasil Investimentos
Consumidores mais exigentes
“Não dá para misturar política e economia mais. Em 2018, descolar essas duas agendas é ainda mais importante por causa das eleições. Vai ser um ano de retomada. Acho que o mercado internacional vai estar mais positivo para nós e isso deve ter um efeito sobre a nossa economia. Também nos ajuda bastante uma certa estabilidade do câmbio. Nós estamos trabalhando com previsão de crescimento de 17% no faturamento no ano que vem; acredito que muita gente voltou a perceber aprendizado de idiomas como chance de se reposicionar no mercado. O setor tem de se preparar para o aumento de demanda porque a recuperação já está acontecendo agora e os consumidores estarão mais exigentes nessa retomada.”Decio Pecin, CEO da CNA Idiomas
Reformas macro e setoriais
“A retomada da economia depende de medidas como redução do déficit fiscal, o que passa pela aprovação das macrorreformas, em especial a da previdência, e de reformas setoriais, como a Lei Geral das Telecomunicações. Ainda não estamos percebendo uma saída firme da crise, mas nossa expectativa é de que a inflação menor e a taxa de juros em queda gradual impulsionem o consumo. O redirecionamento desses recursos irá gerar ampliação de empregos diretos e indiretos e tem forte impacto no crescimento do PIB, além de reduzir as desigualdades regionais e promover mais inclusão digital e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.”Eduardo Navarro, presidente da Telefônica Brasil/Vivo
Potencial para crescer
“Não existe crise que dure para sempre. Durante essa crise, plantamos algumas sementes para a recuperação, não sei se em 2018, 2019 ou 2020. Porém, teremos uma retomada na amplitude dessa crise que tivemos. Os aeroportos ganharam em dinamismo com a entrada de novos investidores, mas esse processo vai depender do governo um pouco mais. O potencial em 2018 depende disso. Na mobilidade urbana, o potencial ainda é gigantesco. Conforme a economia se estabilizar, teremos uma capacidade de crescer rapidamente porque os últimos anos foram muito menos ativos. E há também um mercado de novas rodovias que ainda podem ser licitadas. O crescimento vai acontecer antes do que esperamos.”Erik Breyer, presidente da Invepar
Retomada de projetos
“A expectativa para as áreas de Tecnologia da Informação (TI) e de telecomunicações é positiva, com a recuperação dos níveis de investimento. O Brasil deverá seguir o movimento do mercado global de tecnologia, cujas estimativas são de US$ 3,7 trilhões em 2018, com um aumento de 4,3% em relação a 2017. Acredito que agora será o momento de as empresas retomarem seus projetos. Pesquisas apontam um aumento nos investimentos de TI e telecomunicações em 2018 acima das taxas do PIB e no uso de novas frentes, como transformação digital, digitalização, nuvem (infraestrutura como serviço, plataforma integrada como serviço e plataforma de comunicação como serviço), Internet das Coisas, aplicações mobile e soluções financeiras, como pagamento por smartphone e analytics, entre outros.”José Formoso, CEO da Embratel
Mais investimentos em tecnologia
“Estamos otimistas com o cenário econômico projetado para 2018. Todos os indicadores são positivos e devem motivar maiores investimentos em tecnologia. Apesar da recessão dos últimos dois anos, conseguimos crescer expressivamente com clientes buscando soluções que reduzissem seus custos, já que a receita não estava crescendo. Em 2017, já sentimos uma maior procura pela inovação, com algumas empresas mostrando crescimento principalmente no segundo semestre. Creio que deve haver uma procura ainda maior por soluções de software-as-a-service e por soluções que melhorem a eficiência operacional das empresas.”Katia Ortiz, country manager da ServiceNow no Brasil
Oportunidades a preencher
“Acreditamos na retomada da economia brasileira e já podemos presenciar a movimentação de índices importantes. O Brasil tem uma incrível capacidade de dar a volta por cima e sempre recuperar o caminho do crescimento. A análise dos grandes números nos últimos meses pode direcionar para um cenário de baixo crescimento, mas já podemos perceber que existe uma retomada gradual, além do fortalecimento da confiança do consumidor – fator muito importante nesse processo. Alguns setores já apresentam melhoria no desempenho e acabam puxando áreas correlatas. Apesar de sentir os reflexos da retração econômica, o mercado segurador brasileiro seguiu apresentando crescimento contínuo ao longo dos anos. Apesar dos bons números, ainda temos um longo caminho para percorrer e muitas oportunidades para preencher. É um cenário de inúmeras oportunidades para o setor que, como todos os segmentos da economia, está sendo impactado pela revolução digital.”Leonardo Mattedi, diretor de Administração, Finanças e Marketing da Mapfre
Exportações em alta
“Para 2018, há muito o que acontecer que será determinante para a economia, especialmente o elevado grau de incerteza que envolve o pleito presidencial de 2018. Porém, em suma, as perspectivas são positivas para uma recuperação econômica. Recentemente, o Governo anunciou investimento de R$ 130 bilhões em projetos de infraestrutura, habitação e energia, o que amplia as perspectivas de crescimento para o setor nos próximos anos. Além disso, a balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 58.477 bilhões no acumulado de janeiro a outubro, o que representa um crescimento de 51,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa que as exportações brasileiras foram maiores do que as importações, o que impacta diretamente o potencial de crescimento da UPS, já que o foco estratégico da empresa no Brasil é internacional, com as exportações.”Nadir Moreno, presidente da UPS no Brasil
Diversificação
“Temos conquistado resultados positivos na operação brasileira, mesmo com o cenário econômico desafiador. Os principais setores de atuação da Penske no Brasil são o automotivo e o eletroeletrônico, mas, a partir desse ano, a empresa está diversificando sua área de atuação. Há razão para investir, para crescer tanto no varejo como no consumo. A empresa busca investir até lá R$ 12 milhões em novos sistemas de Tecnologia da Informação. Até o final de 2018, diversas melhorias e implantações de novos softwares já serão executadas.”Paulo Sarti, presidente da Penske Logistics
Período de transição
“A economia brasileira pode sinalizar melhora em 2018 caso continue desprendida o máximo possível do cenário político. Quando a equipe econômica conseguiu certa autonomia, o PIB voltou a crescer e a taxa de juros ficou mais estável, bem como a inflação e a variação do dólar. A aprovação da reforma trabalhista, nesse aspecto, também contribuiu para uma melhora da confiança dos empresários e, consequentemente, do mercado. Acredito que o ano que vem será um período de transição, e, no melhor dos mundos, o crescimento será mantido. Com a crise iniciada em 2013, muitos transportadores deixaram de renovar e ampliar a frota por causa da estagnação econômica. Se, a partir de 2018, continuarmos no caminho do crescimento, teremos uma provável retomada, com a queda do desemprego, a melhora da confiança dos consumidores e empresários e, consequentemente, o aumento dos negócios do varejo, levando os frotistas a investir em novos caminhões, o que é bastante saudável para os negócios de transporte no País.”Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina
Reinvenção
“Estamos otimistas com a retomada da economia do País. Sabemos que isso será em longo prazo, mas já temos visto sinais de melhoria. Talvez a grande barreira para a retomada do crescimento da economia no Brasil seja o tempo que isso vai demorar, mas estamos na expectativa de que, nos próximos anos, os sinais de melhoria sejam cada vez mais notórios. No nosso caso, estamos nos reinventando ao longo dos anos, e as soluções nas quais investimos devem render ainda mais frutos a partir de 2018.”Shin Tagawa, presidente da Fujifilm