Resiliência na jornada ESG
Empresas que investem em programas de resiliência contribuem para sua jornada ESG, sobretudo porque fortalecem a governança e são parceiras de confiança com seus stakeholders em qualquer cenário.
Julho | 2022Nem sempre é possível fazer projeções do cenário mundial com antecedência. Contudo, o que seria possível prever para organizações nos próximos tempos – considerando os atuais acontecimentos, por exemplo, o pós-pandemia, a guerra entre Rússia e Ucrânia e suas repercussões político-econômicas? Igualmente, quantas das organizações monitoram esse cenário, estabelecendo planos de resposta possíveis, colocando em prática um modelo de governança adequado?
Embora esses pontos se relacionem diretamente com a governança – o G do conceito ESG – a gestão de crises e a resiliência vão mais além. As maneiras pelas quais os três pilares da sigla ESG se relacionam com essa temática variam de acordo com o setor, a geografia e as singularidades da organização. Mas todas elas possuem pontos em comum:
Ambiental: As mudanças climáticas geram alguns dos possíveis cenários de crise que mais têm preocupado as organizações recentemente. Podem ocorrer, por exemplo, crises hídricas, perda de colheitas, eventos climáticos extremos. As empresas do agronegócio são profundamente impactadas pelas mudanças do clima, uma vez que podem ter seu core business afetado e, consequentemente, sofrer perdas financeiras e reputacionais incididas sobre elas e seus investidores.
Social: O impacto social positivo, que inclui parcerias para um desenvolvimento comum e promissor é uma das formas de gerar valor compartilhado. Aplicar na prática esses conceitos é um desafio para muitas organizações. Mesmo em diferentes graus de maturidade, elas buscam primeiramente entender as diferenciações semânticas dos temas sociais para depois encontrar interseções em seus territórios de atuação. Estruturar a gestão de crises ajuda as empresas a entender quais cenários de crise são propensos a ocorrer e como se preparar para enfrentá-los. Esse processo torna mais efetivo os investimentos no âmbito social – indo além das obrigações legais do licenciamento ambiental – e prevenindo custos causados por um evento disruptivo.
Governança: Esse pilar abrange também as estruturas, profissionais e recursos adequados para agir de forma responsável antes, durante e depois de eventos disruptivos – que tendem a ocorrer a todo momento no ambiente de negócios. Por exemplo, ter uma integração coordenada entre diferentes camadas, como gestão de emergências, questões críticas, incidentes e crises, é fundamental para que, em um evento complexo, ocorra uma ação eficaz envolvendo múltiplas escalas e temas da organização. Além disso, uma governança bem estruturada agrega valor e protege seus dirigentes, facilitando a demonstração de que a empresa procurou atuar sempre de forma responsável, além de investir na mitigação de eventos de crise.
Crises: do preparo responsável à sustentação da estratégia
Notadamente, novas crises podem ser evitadas a partir de uma estratégia alinhada e responsável. Por isso, as organizações estão em um movimento de adoção de estratégias de agenda positiva, que também atuam na prevenção de problemas, por exemplo, implantando projetos de valor compartilhado em áreas de amortecimento e próximas às zonas de preservação ambiental: plantios com produção em sistemas agroflorestais garantem a manutenção dos serviços ambientais, como água limpa, solo equilibrado, habitat saudável para a fauna.
O uso do solo inteligente, que conserva as áreas ambientais, tem como objetivo protegê-las contra a invasão e realização de atividades predatórias que buscam se desenvolver em meio às facilidades que trazem os ativos estruturais e econômicos que se desenvolvem em determinadas regiões, como estradas e a oferta de serviços em regiões mais afastadas dos grandes centros.
Essas situações de ilegalidade que podem ocorrer próximas à área de atuação da empresa, gerando uma mancha na sua imagem, se as responsabilidades não estiverem bem delineadas – podendo também ser confundidas pelos diferentes grupos sociais que estão presentes naquele território, bem como por outras partes no âmbito nacional e internacional, que muitas vezes não conhecem a fundo a realidade das diferentes geografias do Brasil.
Navegar em um complexo cenário político local, regional e nacional apresenta desafios multiescalares. Realidades próprias de um País em desenvolvimento ocorrem inoportunamente em momentos em que a vulnerabilidade é maior: durante eventos de crise. Muitas vezes, governos locais não possuem infraestruturas adequadas nem recursos humanos capacitados para lidar com o atendimento de situações críticas –, pois existem questões políticas pouco visíveis que podem interferir nos assuntos.
Neste sentido, algumas vezes as organizações se deparam com uma situação delicada em que um evento disruptivo atinge a população local. Diante disso, elas têm a difícil tarefa de agir com responsabilidade, manter uma boa reputação e mitigar novos riscos decorrentes do evento. Em casos severos, a questão é transferida para a esfera judicial, mas outras tantas vezes é a licença social para operar que é afetada.
Por essa razão, trabalhar a transparência e construir relacionamentos de longo prazo são fundamentais para evitar situações de conflito com comunidades locais (o conceito de greenwashing abrange essas questões). Todo cuidado é necessário para evitar expectativas desalinhadas. Atenção especial deve também ser dada ao alinhamento com empresas contratadas, sobretudo as que iniciam a atuação em um novo projeto.
Um programa de gestão de crises e resiliência eficiente nesta fase inicial é fundamental para uma transição segura para a fase de operação. Vale lembrar também que, a configuração em joint ventures traz desafios de governança adicionais e deve ser tratada com atenção para proteger as empresas envolvidas e seus stakeholders.
Em resumo, estruturar um programa de resiliência e gestão de crises é criar mecanismos para trazer ordem ao desequilíbrio que se apresenta quando há uma situação atípica. O próprio significado da palavra ”organização“ aponta para o fato de que é preciso ordenar recursos e pessoas para um objetivo comum. Ser resiliente como empresa é entender que quanto maior a inteligência do “órgão” corporativo, maior capacidade de adaptação em diferentes cenários, sempre suportada pela atuação ética e relação de confiança envolvendo partes interessadas rumo aos princípios ESG.
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