Um olhar para o futuro
Entrevista com o economista-chefe global da Deloitte, Ira Kalish, aborda o cenário da economia internacional e as perspectivas para países emergentes.
Outubro | 2024Taxas de juros mais baixas nas maiores economias do mundo, baixo desemprego, crescimento lento, mas estável, da economia chinesa… para Ira Kalish, economista-chefe global da Deloitte, de maneira geral, a economia mundial está indo “razoavelmente bem”. “O mundo está passando por um período mais calmo, o que será benéfico para países emergentes como o Brasil”, afirmou o economista, que esteve em São Paulo para participar do evento “Oportunidades em tempos de incertezas”, realizado pela Deloitte, que teve como objetivo discutir caminhos para a melhoria e o crescimento dos negócios que atuam em nosso País.
Em entrevista para a Mundo Corporativo, Kalish falou um pouco sobre os movimentos e as perspectivas que afetam a economia internacional e o impacto em países emergentes em temas como sustentabilidade ambiental, cadeia de suprimentos e desenvolvimento de tecnologias como 5G e 6G. Além disso, o economista comentou sobre a inteligência artificial generativa e suas implicações na economia e nas organizações.
MC: Quais são os principais movimentos e perspectivas que afetam a economia internacional e seu potencial impacto em países emergentes como o Brasil?
A economia global está realmente indo razoavelmente bem. Meu país de origem, Estados Unidos, continua a crescer em um bom ritmo. A recente volatilidade nos mercados financeiros levou a temores de que o mercado norte americano pudesse estar caminhando para uma recessão, mas não acho que seja o caso. A economia europeia está começando a se recuperar e a chinesa, embora com crescimento lento, está estável. Enquanto isso, em todo o mundo, a inflação está diminuindo e os principais bancos centrais estão à beira de um corte significativo nas taxas de juros, o que deve ter um impacto positivo na economia global.
Então, podemos dizer que o mundo está passando por um período mais calmo, o que será benéfico para países emergentes como o Brasil. Certamente as taxas de juros mais baixas adotadas pelos principais bancos centrais, especialmente o Federal Reserve dos Estados Unidos, terão um impacto positivo nos países emergentes, darão aos bancos centrais desses países espaço para flexibilizar sua política monetária e ajudarão a estabilizar suas moedas. E, enquanto a economia global continuar a crescer, será benéfico para os países emergentes que são grandes exportadores.
MC: Ainda considerando o panorama global, como as perspectivas de geopolítica e economia podem ajudar países emergentes como o Brasil em aspectos como: sustentabilidade ambiental (transição energética, mercado de crédito de carbono etc.), cadeia de suprimentos e desenvolvimento de tecnologias como 5G e 6G?
Acredito que, para países emergentes como o Brasil, alcançar o sucesso em algumas das indústrias mais novas, como energia limpa e alta tecnologia, exigirá mais investimento estrangeiro direto das principais empresas globais.
E há uma série de coisas que podem ser feitas para atrair esse tipo de investimento. Isso inclui investimento em capital humano e infraestrutura, e criação de um ambiente econômico estável, com baixas taxas de juros e moedas estáveis. Isso, por sua vez, requer uma política fiscal favorável com superávit fiscal primário. E muito importante, os investidores globais querem perceber a que os governos dos países emergentes estão incentivando e promovendo o investimento estrangeiro direto e tentando criar um ambiente propício e bem-sucedido.
MC: Como a utilização crescente da IA generativa pode impactar as empresas e a própria economia? E como as organizações podem se preparar para navegar melhor nessas mudanças?
A IA generativa é, de certa forma, semelhante a episódios anteriores de disruptura tecnológica. E o que sabemos do passado é que, quando esses episódios ocorreram, levaram a um aumento na produtividade do trabalho.
Mas isso leva tempo. Leva tempo entre a invenção da nova tecnologia, a implementação e o impacto final na produtividade do trabalho. Portanto, é algo que não vai acontecer imediatamente. A outra coisa que sabemos da história é que as novas tecnologias podem ser muito perturbadoras para os mercados de trabalho, pois podem levar à perda de alguns empregos e à criação de outros.
O desafio para quem faz as políticas públicas é garantir que a composição de habilidades da força de trabalho seja propícia a essa mudança, porque ainda não é. Não obteremos todos os benefícios dessa nova tecnologia para empresas individualmente. Há oportunidades e desafios. A inteligência artificial generativa criará a oportunidade de desenvolver novos e melhores serviços, e aprimorá-los, criá-los com mais eficiência – mas também criará uma competição que pode ser extremamente perturbadora.
E estamos acompanhando esse movimento na Deloitte. Estamos fazendo um grande investimento em IA generativa, tanto do ponto de vista da oferta quanto da demanda. Do lado da oferta, queremos usar IA generativa para melhorar nossa capacidade de fornecer serviços aos nossos clientes. E do lado da demanda, queremos apoiar nossos clientes a navegar nessa nova tecnologia. Estamos em posição de ajudar nossos clientes a fazer o melhor uso dessa nova e desafiadora tecnologia.