Preparados para a revolução?
Pesquisa internacional da Deloitte revela a dimensão das transformações trazidas pela Indústria 4.0, que impactam as mais diversas áreas de preocupação nas empresas, a começar pela própria estratégia do negócio.
Janeiro-Março | 2018A Indústria 4.0 já é realidade e reserva novos e grandes desafios para executivos de empresas e líderes governamentais de todo o mundo. As organizações precisam se adequar para acompanhar e aproveitar o potencial da Quarta Revolução Industrial. É o que indica o estudo da Deloitte “Indústria 4.0: você está preparado?”, que entrevistou 1.600 executivos C-level de 19 países – incluindo 102 do Brasil – para explorar a prontidão do mercado diante da Revolução 4.0. Os entrevistados desse levantamento, que foi lançado oficialmente no Fórum Econômico Mundial de Davos, da qual a Deloitte é parceira estratégica, representam empresas com faturamento de US$ 1 bilhão ou mais, sendo que mais da metade vem de empresas com receitas superiores a US$ 5 bilhões.
Historicamente, as revoluções industriais foram marcadas pela adoção de inovações tecnológicas, com o objetivo de trazer produtividade e eficiência aos processos. A Indústria 4.0 chega assim caracterizada pelo casamento de tecnologias físicas e digitais, como inteligência artificial, robótica, computação cognitiva, Analytics e Internet das Coisas (IoT).
“É necessário que os executivos identifiquem o que mudará em sua empresa com a Indústria 4.0. Além da tecnologia, aspectos relacionados à estratégia e à qualificação das pessoas impactarão tanto o ambiente interno, como também a cadeia de clientes e fornecedores. É uma transformação no mercado local e internacional que vai requerer planejamento e investimento de longo prazo, resultando na configuração de novos modelos de negócio”, explica Ronaldo Fragoso, sócio-líder de Desenvolvimento de Mercado da Deloitte.
O estudo aponta que a mudança passa por quatro pilares principais: estratégia; tecnologia; talentos e força de trabalho; e impacto social. Os resultados revelam um relativo otimismo entre os executivos entrevistados sobre o avanço da Indústria 4.0, embora demonstrem também que eles precisam estar mais preparados para endereçar essa nova etapa.
De modo geral, os executivos brasileiros se sobressaem de seus pares globais por darem mais atenção a questões de RH e talentos na sua abordagem da Indústria 4.0. Eles indicam ainda ter uma maior preocupação com a segurança cibernética, enquanto os executivos globais se mostram mais apreensivos com assuntos geopolíticos.
Estratégia
Questionados sobre quais serão os desafios de suas companhias nos próximos cinco anos, os entrevistados destacam o surgimento de novos modelos de negócios – 44% dos executivos brasileiros já enxergam mudanças em função da adoção de novas tecnologias, contra 40% dos executivos globais. As questões regulatórias também têm uma posição relevante, pois 40% dos respondentes acreditam na elaboração de novas regras para acompanhar os novos parâmetros do mercado. Outro ponto de atenção é o risco cibernético, reforçado pelas inovações tecnológicas, o que é uma preocupação para 37% dos brasileiros e 24% dos executivos globais.
Tecnologia
A tecnologia é a motivadora da Quarta Revolução Industrial e é indicada como o grande diferencial competitivo para 39% dos entrevistados brasileiros. Esse número cai para 20% na opinião global. Os executivos brasileiros também se mostram mais dispostos a endereçar os desafios tecnológicos da Indústria 4.0 – 42% dos respondentes acreditam viabilizar um ecossistema com participantes diversos para entregar mais valor aos clientes, ante 33% obtidos nas respostas globais.
Apesar de sua relevância, a tecnologia não é vista como um determinante atual de eficiência. Somente 29% dos executivos brasileiros consideram ter tecnologias mais avançadas para aumentar a eficiência de suas empresas, contra 47% da amostra global.
Talentos e força de trabalho
As transformações implementadas pela Indústria 4.0 trarão mudanças no mercado de trabalho. Por essa razão, 71% dos executivos brasileiros afirmam que seus funcionários precisam ser treinados para as novas habilidades, contra 61% dos globais. Os brasileiros ainda têm dúvidas de como será o relacionamento dos funcionários com a empresa nessa nova fase industrial.
Para 60% dos executivos brasileiros, a tendência é ter funcionários com contratos em tempo integral, enquanto 61% dos globais apostam em contratos temporários e/ou sob demanda, por projeto. Seguindo esta lógica, 56% dos globais estimam necessária uma reformulação completa dos contratos sociais e trabalhistas, ante 35% dos brasileiros.
Impacto social
Espera-se que a Indústria 4.0 tenha bastante influência em questões sociais: 38% dos brasileiros estimam que suas empresas serão um agente de mudança relevante para um mercado equilibrado e justo, ante 24% da opinião global. Os participantes brasileiros estimam ainda que suas organizações são mais capazes de atender a mercados mal servidos, que necessitam de apoio social. Os executivos brasileiros também se mostram mais otimistas com o futuro da sociedade: 93% dos brasileiros estão confiantes com a sociedade que será criada a partir da Revolução Industrial 4.0, contra 87% dos executivos da amostra global. Eles acreditam que a Indústria 4.0 conduzirá à igualdade social e à estabilidade econômica.
A realidade brasileira
A pesquisa da Deloitte revelou que diversas empresas que atuam no Brasil já adotam soluções tecnológicas de ponta, mas elas ainda carecem de ser integradas, para obter uma visão sinérgica de todas as áreas da organização.
De acordo com Ronaldo Fragoso, parece existir um “descolamento” entre as percepções sobre Indústria 4.0 no Brasil e nos demais países. Ele atribui isso ao fato de muitos executivos acreditarem que suas empresas estão no caminho adequado, mas desconhecerem todas as oportunidades que as inovações tecnológicas podem proporcionar.
“A indústria brasileira tinha poucas chances de pensar sobre a incorporação de novas tecnologias e a modernização dos processos por conta das dificuldades econômicas”, explica Fragoso. “Era delicado fazer investimentos para acelerar a transição à Indústria 4.0 com dois ou três anos de recessão. Diante da melhoria do ambiente econômico, esse tema volta à pauta das empresas”, conclui.
O estudo ressalta que os executivos precisam identificar e fortalecer conexões-chave que trarão benefícios para seus clientes, funcionários e empresas. O antigo modelo de negócios já não funciona e aqueles que adotarem todas as facetas da Indústria 4.0 ampliarão suas oportunidades de sucesso nesta nova fase.