O papel do ERP na jornada digital
Na busca por continuar avançando na transformação digital, o momento é de aproveitar a oportunidade de modernização da tecnologia para simplificar processos e rever customizações desnecessárias. A combinação de ERP com machine learning, IoT e inteligência artificial vem para aprimorar performance, experiência do usuário e criatividade.
Setembro-Novembro | 2018Aderir à transformação digital já deixou de ser uma opção no ambiente contemporâneo dos negócios. Em vez de ponderar a real necessidade de fazer a transição para o digital, as empresas se perguntam hoje quando, e de que forma, fazer essa mudança. O que não significa que o caminho seja livre de incertezas. Muitas organizações ainda relutam em acelerar sua jornada para as próximas etapas evolutivas quando se defrontam com a possibilidade de talvez ter de desprezar investimentos vultosos feitos anteriormente em tecnologia e capital humano – um legado que, muitas vezes, remonta a décadas de construção. Deve-se “passar a borracha” nos sistemas e processos já em uso? Ou é possível pensar em um modelo que inclua a convergência dos recursos existentes com soluções mais eficazes e modernas?
No cerne dessa questão da convergência entre modelos antigos e novos de TI, está o Enterprise Resource Planning (ERP) de cada empresa – sistema que coordena todas as operações do negócio, do estoque ao faturamento, do fluxo de caixa à gestão contábil. Cada organização tem um estágio próprio de maturação digital de seu ERP e a decisão sobre como modernizá-lo envolve os mesmos questionamentos. “As empresas precisam fazer algumas reflexões internas: Qual é o business case para a migração? Vamos lidar com uma implementação totalmente nova? Vou ter de mobilizar a empresa toda no projeto? Como promover a cultura digital entre os usuários do ERP? Quais aceleradores, recursos e metodologias devo usar?”, aponta Carlos Fogarolli, sócio da área de Consultoria da Deloitte e especialista no setor de Tecnologia. “As respostas são diversas e específicas para cada caso, mas, de fato, devem estar minimamente endereçadas. Nós entendemos que a transformação digital está inteiramente ligada à inovação e à forma como as empresas tomam decisões. Atualmente, é possível inovar a qualquer hora e em qualquer plataforma, basta praticar”, indica Fogarolli.
Cada história envolve necessidades específicas. A empresa canadense de serviços financeiros ATB Financial, por exemplo, precisava de maior transparência em suas transações internas e externas; o problema foi resolvido com um novo ERP que substituiu o sistema antigo, pesado e repleto de customizações muito complexas. Já a cadeia de lojas de vestuário Carter’s (EUA) lidava com mais de 20 sistemas diferentes e um grande volume de processos que ainda envolviam dados em papel; tudo foi substituído por apenas quatro serviços digitais, que integraram atividades de perfil financeiro, de cobrança e GRC (governança, riscos e compliance). Por sua vez, a Prefeitura de Buenos Aires, na Argentina, trocou seus processos descentralizados e analógicos por ERPs para a gestão de iluminação pública, conservação, manutenção e outros serviços urbanísticos.
“Há diversos exemplos que reforçam a posição do ERP como elemento centralizador e de convergência entre as áreas de negócios. Esses sistemas são peças vitais para a transformação digital e elementos-chave na questão da integridade dos dados, como estrutura de conexão com outros sistemas e plataformas do mundo exterior”, resume Carlos Fogarolli. “Além disso, as versões modernas de ERPs oferecem tudo o que uma empresa digital busca, com foco na experiência do usuário, infraestrutura cloud e uma demanda mínima de customizações, se combinadas com plataformas de inteligência. Esses sistemas proporcionam a autonomia que os usuários precisam para ter uma experiência diferente e inovadora com a ferramenta.”
Estrategicamente, vemos que as organizações aceleram cada vez mais os estudos sobre as vantagens de serem ‘early adopters’ das novas soluções em ERP., Carlos Fogarolli, sócio de Consultoria em Tecnologia da Deloitte.
A SAP, por exemplo, consolidada como líder no fornecimento de sistemas digitais para gestão de negócios, tem em seu portfólio soluções completas de ERP, plataformas de computação em nuvem e sistemas de design thinking – tecnologias que costumam estar no topo da lista dos elementos facilitadores da transformação digital. A mais recente versão de sua suíte de ERP, o S/4HANA, já foi adotada (em diversos estágios de implantação) por mais de 3.600 organizações em todo o mundo; cerca de 1.700 projetos já foram concluídos e estão em fase funcional. “O S/4HANA oferece a oportunidade para as pessoas repensarem a forma como lidam com seus atuais ERPs, com seus aceleradores de processos, a possibilidade de infraestrutura local ou em nuvem, os recursos de analytics avançados e as camadas de experiências especificas para cada usuário”, aponta Fogarolli.
Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil, lembra que “cada empresa é única, com diferentes pontos de partida e chegada. As possiblidades vão desde a implementação de uma nova solução até a digitalização de uma estrutura existente na nuvem, ‘on premise’, ou uma combinação de ambas”. Da lista de companhias que implementaram o S/4HANA ao redor do mundo, 93 são brasileiras. “Existem algumas barreiras a serem vencidas para resolver nosso gap em relação a outros países, como uma maior adoção da tecnologia em nuvem e o amadurecimento das empresas”, afirma Cristina sobre a disseminação da transformação digital entre as empresas locais. “Acreditamos, no entanto, que, em alguns setores da economia, esse descompasso seja resolvido. O agronegócio já está bem à frente no processo de transformação. Também existem grandes oportunidades de aceleração no varejo e no setor público, entre outros.”
Sistemas legados mais antigos podem estar desatualizados, ter baixo nível de integração entre processos ou carregar especificações complexas que dificultam sua interação com outras plataformas. O desafio de fazê-los convergir com um moderno ERP 100% digital não escapa à SAP. “Há ferramentas que permitem aos clientes iniciarem rapidamente, desenvolvendo e executando funções de forma simples, enquanto inovam continuamente na nuvem e em qualquer lugar”, diz Cristina Palmaka. “Pode ser desde uma nova implementação ou a conversão de um sistema existente, até uma transformação de estrutura híbrida.” A presidente da SAP cita um novo recurso integrado ao S/4HANA que ajuda as empresas a fazerem o que ela classifica de “uma transição suave”. “O SAP Activate é uma metodologia que começa com as melhores práticas, minimiza a quantidade de customizações e agiliza a instalação, reduzindo a complexidade”, conta Cristina.
Para além da tecnologia, a opção de fazer a atualização de um ERP e embarcar de vez na transformação digital envolve, como sempre, as pessoas. “Ao final, o objetivo continua a ser o de encontrar oportunidades de liberar o tão valioso tempo dos colaboradores para as atividades que exigem inteligência nas tomadas de decisão”, diz Carlos Fogarolli. “A adoção de um moderno ERP é um momento estratégico importante sob todos os aspectos, tanto em tecnologia como em negócio”, conclui.
Maior desafio é a mudança de mentalidade
Dificuldades na implementação de projetos acontecem em todo tipo de empresa. A tarefa de adotar ou de atualizar um sistema de ERP não é exceção. De acordo com o estudo da Deloitte “Your Guide to a Sucessful ERP journey”, um total de até 75% dos projetos de ERP não cumprem todos os objetivos originalmente propostos. A pesquisa sustenta que a necessidade de uma mudança de mentalidade na gestão das empresas é o maior desafio a ser vencido – e aponta 10 passos que os líderes das organizações podem tomar para aumentar as chances de sucesso na transição:
1. Convoque toda a equipe para explicar as razões e a estratégia que definiram a mudança;
2. Destaque alguém para remover os obstáculos. O projeto deve ter um líder com autoridade definida desde o começo;
3. Mantenha os olhos no retrovisor. Analise o histórico da empresa e avalie como o público interno reagiu a mudanças no passado;
4. Não ponha a carroça na frente dos bois. O projeto deve ter uma estrutura clara e responsabilidades claramente definidas antes de sair do papel;
5. Prepare-se para os desvios. As mudanças em curso vão afetar o trabalho dos funcionários; esses impactos devem ser mapeados previamente;
6. Peça informações no meio do caminho. O projeto deve contar com uma rede de comunicação formal e bem estruturada, para facilitar a implementação. Acione seus parceiros para buscarem soluções juntos;
7. Ensine às pessoas como aderir aos novos padrões. Uma estratégia de capacitação para o uso do ERP deve ser bem pensada, para identificar lacunas e acelerar a adaptação;
8. Mantenha-se no lado certo da estrada. O suporte aos usuários do ERP deve ser eficaz e ágil, para evitar queda de performance na fase operacional do sistema;
9. Consiga a participação de todos. A empresa inteira precisa estar engajada no projeto, com integração e cooperação entre todas as áreas;
10. Perder-se no meio do caminho não é o fim do mundo. Todo projeto enfrenta imprevistos. Eles devem ser endereçados de forma assertiva, mantendo a confiança da equipe.