A revolução BaaS
Conheça o modelo que habilita empresas de todos os portes e setores a se conectarem diretamente, incluindo ou incrementando suas ofertas de produtos e serviços bancários a partir de uma infraestrutura já pronta e regulamentada.
Fevereiro | 2022Na prática, o termo BaaS (Banking as a Service), que pode ser traduzido como “banco como serviço”, é um modelo que habilita empresas de todos os portes e setores a se conectarem diretamente, incluir ou incrementar produtos e serviços bancários às suas ofertas a partir de uma infraestrutura bancária já pronta e regulamentada.
As ofertas de BaaS vêm evoluindo – o que era antes restrito a produtos e serviços de cash management, White Label (modelo de negócio em que um produto ou serviço desenvolvido por determinada empresa pode ser revendido por outras empresas), ou oriundos de parcerias especificas, hoje já abrange vários produtos e serviços bancários e ou financeiros que podem ser integrados diretamente a soluções de empresas de qualquer setor. Caminha-se para proposições cada vez mais personalizadas e sofisticadas, mesclando linhas de produtos e serviços que atendam a necessidades ainda não supridas por players tradicionais de serviços financeiros.
Três grandes fatores que habilitam e potencializam essa evolução das ofertas de BaaS são: a digitalização e migração das infraestruturas para nuvem; o Open Finance, que potencializa a infraestrutura para o crescimento de plataformas de APIs; e um cenário regulatório cada vez mais propício para entrada de novos players que buscam oferecer uma jornada mais completa para o consumidor final, atendendo a um consumidor cada vez mais exigente.
Digitalização
A digitalização tem sido fundamental para o setor financeiro, amplamente acelerada pelo contexto da pandemia e pelos consumidores, que estão cada vez mais empoderados, buscando ofertas únicas e que satisfaçam às suas necessidades. No entanto, as tecnologias digitais agora alcançaram um nível de sofisticação e onipresença no qual elas conduzem mudanças nas definições e operações fundamentais do mercado, e nos modelos de negócios. As principais atividades bancárias, que têm sido lucrativas por séculos, estão sendo comoditizadas em rápida escala. A competição não vem apenas de startups de fintechs digitais, mas – mais importante – de algumas das empresas mais proeminentes e poderosas de outras indústrias. A cadeia de valor bancária tradicional está se decompondo em vários elementos constituintes – ou componentes.
Open Finance
Conduzidas pelo Banco Central do Brasil, iniciativas como o Pix, Open Banking e Open Insurance, são formas de aumentar essa dinâmica e promover a concorrência entre os participantes do mercado, buscando reduzir o custo do crédito, modernizar a legislação e melhorar a eficiência do sistema bancário brasileiro.
Na corrida do setor de serviços financeiros para o digital, o Open Finance surgiu como a última revolução. Espera-se que essa mudança de um modelo fechado – em que cada banco retém e controla as informações que coleta sobre seus clientes – para um modelo aberto, no qual os dados dos clientes que fornecem o consentimento são compartilhados, estimule maiores níveis de colaboração e inovação – e, em última análise, resulte na criação de novos produtos e serviços.
No centro desses novos modelos abertos estão as plataformas de API, que desempenham o papel crucial de facilitar a comunicação e a sincronização de diferentes aplicativos nas organizações. No longo prazo, espera-se que as plataformas de API com base em nuvem catalisem uma transformação muito mais radical do setor de serviços financeiros – que mudará completa e irrevogavelmente a dinâmica do relacionamento banco-cliente e redefinirá a própria noção de competição.
Essas transformações não movimentam apenas o setor financeiro, mas também o setor de bens e consumo, telecomunicações, tecnologia, entre outros. Nesse contexto, soluções de BaaS começam a ser alavancadas e vistas como opção de incremento em modelos de negócios que nunca imaginaram agregar serviços financeiros a suas jornadas, customizando o modelo digital para se tornarem mais atraentes e lucrativas no longo prazo. Tudo isso com a redução da burocracia, impulsionando a demanda por novas fintechs e experiências financeiras integradas e de encantamento dos clientes.
Com a oferta de produtos financeiros a partir do BaaS, é possível criar valor, permitindo que empresas de todos os portes e setores fortaleçam seus negócios principais, conquistando novos clientes ao diversificar o portfólio em curto prazo e melhorar a compreensão do consumidor por meio de dados captados, trazendo novas fontes de receita para o ecossistema como um todo. Isso é o que chamamos de Embedded Finance, um fenômeno recente, com cerca de três anos, que diz respeito a embarcar finanças em experiências que antes não tinham relação direta com o mundo financeiro.
Ambiente competitivo
Como resultado desse ambiente mais competitivo, diferentes players no mercado devem realizar movimentos distintos. Esses movimentos podem ser de ataque ou de defesa por clientes, dados e receitas. O BaaS atua como uma espécie de mercado bilateral (two-sided market), em que players com posicionamentos tanto mais defensivos como ofensivos tendem a se beneficiar. Bancos incumbentes, por exemplo, em um movimento de defesa, podem usar de sua robusta infraestrutura bancária, volume de dados e confiança dos clientes para gerar novas fontes de receita por meio do BaaS. Assim como fintechs, big techs e mesmo a indústria não financeira podem usufruir desses serviços bancários para expandir suas entregas de valor.
Nesse cenário, o BaaS tem potencial para definir o mercado futuro e a geração de novos negócios. Ao integrar negócios não bancários com a infraestrutura financeira regulamentada, as ofertas de BaaS possibilitam novas propostas especializadas com time-to-market acelerado. Essas novas proposições, construídas com especificidade e agilidade, estão deslocando ofertas existentes e desagregando muitos elementos lucrativos da cadeia de valor bancária tradicional no processo.
Conclusão
Ao transformar ativos tecnológicos existentes em fontes alternativas de receitas, o BaaS traz novas oportunidades para a indústria de serviços financeiros, ampliando os horizontes de novos negócios. O BaaS gera também oportunidades às empresas de outros setores que buscam oferecer experiências aos seus clientes, diferenciando-se de seus concorrentes por meio de um posicionamento estratégico e uma operação robusta de ofertas financeiras de uma forma mais moderna e contextualizada, atendendo a um consumidor que começa a contar com um grau de empoderamento inédito e espera experiências digitais mais completas, eficientes e de alto nível.
Sergio Biagini é sócio-líder da indústria de serviços financeiros da Deloitte
Henrique Gallotti é diretor da prática de Strategy, Analytics and M&A da Deloitte