The Town 2023 e Rock in Rio levam pauta ESG para festivais
Com apoio da Deloitte, “Consultoria ESG Oficial” dos dois eventos, a organização desses festivais implementou ações com o compromisso de levar mais além as preocupações de ordem ambiental, social e de governança.
Setembro | 2023A cobrança por práticas sustentáveis não está mais limitada apenas às grandes organizações. Cada vez mais, empresas de diversos portes e setores têm visto a necessidade de implementar ações que levam em conta os impactos de ordem ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). A situação não é diferente para a indústria do entretenimento que tem grandes festivais, como The Town e Rock in Rio, na vanguarda da sustentabilidade, servindo de exemplo para os grandes eventos que acontecem no Brasil e no mundo.
A percepção do que significa “gerar valor” também está mudando. Hoje, as corporações se preocupam com questões que vão além da rentabilidade dos negócios, comprometendo-se a gerar impactos positivos aos stakeholders e ao meio em que estão inseridas. Foi nesse contexto que a organização viu a oportunidade de intensificar ainda mais ações que sempre estiveram no DNA dos festivais. “O Rock in Rio tem como base pilares sociais e econômicos desde sua criação, em 1985”, conta Roberta Medina, vice-presidente de Reputação de Marca da Rock World.
Na terceira edição do Rock in Rio, em 2001, nasceu o projeto “Por um Mundo Melhor”, que, com a força do festival, tinha como objetivo motivar as pessoas a implementarem mudanças no seu dia a dia, resultando na adoção de boas práticas. Nos 20 anos seguintes, o projeto continuou crescendo e seguindo parâmetros sociais e ambientais. Hoje ele tem a sustentabilidade como uma das pautas centrais da estratégia do evento, que é certificado na norma ISO 20121 – sistemas de gestão de eventos sustentáveis. “Nosso entendimento sempre foi de que, se estamos nos propondo a ser uma marca internacional e formadora de opinião, temos de fazer a nossa parte”, afirma Roberta.
Em 2022, a organização do Rock in Rio procurou a Deloitte para alavancar ações pautadas pelos aspectos ambientais, sociais e de governança no maior festival de música do País. A Deloitte se tornou, assim, a “Consultoria ESG Oficial” do Rock In Rio e do The Town. “A Deloitte foi procurada, primeiro, para fazer um diagnóstico do quadro geral do Rock in Rio e entender todas as iniciativas que o evento já tinha implementado e o que mais poderia ser feito, levando em consideração o que o mercado vem exigindo em termos de ESG”, explica Bernardo Nunes, sócio de Risk Advisory da Deloitte e responsável pela atuação da organização nos projetos The Town e Rock In Rio.
Com base nos resultados de benchmarking e diagnóstico, a Deloitte mapeou práticas existentes e oportunidades para o festival aprimorar suas métricas de ESG. Segundo Nunes, após essa fase inicial, foi feito um estudo de materialidade para identificar necessidades de ordem ambiental, social e de governança, além de uma análise de riscos voltados aos temas de ESG. Para Roberta, o estudo de materialidade foi particularmente interessante porque validou as áreas que a organização já estava trabalhando, além de indicar caminhos para avançar e ter impacto positivo.
Continuidade no projeto
O compromisso da organização de fazer eventos inspiradores, sustentáveis, que contribuam para a construção de um mundo melhor e que deixem um legado positivo seguiram então com o festival “irmão” do Rock in Rio, o The Town, em sua primeira edição em São Paulo, em setembro de 2023.
“Nosso trabalho levantou os principais pontos com os quais um evento como esse deveria se preocupar, como a questão da redução das emissões de gases de efeito estufa, do transporte e mobilidade, do uso eficiente de energia, da circularidade e da gestão eficiente de recursos, quando falamos da temática ambiental”, detalha Nunes. “Já na questão social, é importante considerar temas como experiência do cliente, direitos humanos, relações comunitárias, diversidade, inclusão e condições do trabalho, incluindo saúde, segurança ocupacional e práticas trabalhistas. Na área de governança, é preciso olhar para a responsabilidade corporativa, o que envolve ética, conduta, compliance, gestão de riscos e desenvolvimento da cadeia de suprimentos.”
Antes de iniciar o trabalho com o The Town, a Deloitte realizou um estudo completo sobre os impactos, os riscos e as oportunidades do evento, chegando a um plano de trabalho composto por quatro grandes ações que apoiam na evolução ESG da gestão do festival:
- Reflexão estratégica: alinhamento dos objetivos ESG aos temas materiais e de riscos do evento;
- Prêmio Atitude Sustentável: revisão da metodologia do prêmio, incluindo propostas para aprimorá-lo, aplicação de piloto e consolidação dos resultados com foco na melhoria contínua;
- Reporte ESG: reestruturação do relatório de sustentabilidade, demonstrando a evolução dos indicadores monitorados frente às metas estabelecidas;
- Descarbonização: entendimento da abordagem estratégica para a descarbonização pré-existente e o mapeamento das oportunidades para a redução das emissões a partir do projeto.
“Prestar atenção às normas ESG deixou de ser um ato ativista e passou a ser algo obrigatório”, afirma Roberta Medina, ressaltando que a organização dos festivais hoje é guiada por uma visão de sustentabilidade, com compromissos assumidos para cumprir metas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo Roberta, ainda há desafios para a indústria como um todo avançar, mas é significativo que o mercado esteja dando mais importância a esses temas. “Ainda precisamos buscar mais conexão entre setores diferentes, com mais participação de startups e tecnologias, para buscar soluções que funcionem não apenas para nossos eventos mas também para a indústria da música e do entretenimento como um todo”, afirma. “Isso não significa que vamos deixar de fazer entretenimento. A música tem um papel importante na sociedade, mas é preciso saber como fazer o que fazemos com menos impacto ambiental e mais impacto positivo na sociedade e na economia.”
Segundo Nunes, da Deloitte, essa preocupação é algo que deveria estar na agenda de todas as empresas, e não apenas na lista de tarefas de organizadores de eventos musicais. “É fundamental que festivais desse porte tenham preocupações como essas. As organizações, de forma geral, precisam ter esse cuidado, até porque isso é algo que o próprio público vem exigindo”, diz Nunes. “Cada um tem de fazer a sua parte. No fim, quem não quer um mundo melhor?”